sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Como um Abortivo!


Como um abortivo



Rui Luis Rodrigues 
@Ruiluisr



Eu entendo Paulo. Como muitos de nós, ele provavelmente guardava uma secreta mágoa pelo que talvez considerasse como “tempo perdido”. Isso se subentende da famosa declaração que ele acoplou ao texto de uma antiga confissão da fé, oriunda das primitivas comunidades cristãs:

Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze. (1 Coríntios 15:3-5)

Até aqui vai a antiga confissão, derivada provavelmente das primeiras comunidades cristãs estabelecidas em ambiente palestino. A essa afirmação, que era reproduzida na catequese das comunidades (como fica claro pela menção paulina, “aquilo que eu mesmo recebi”), Paulo acrescentou:

Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram. Posteriormente, apareceu a Tiago e, depois, a todos os apóstolos. (1 Coríntios 15:6-7)

Esse acréscimo procura acomodar outras tradições relativas às aparições pascais (ou seja, às aparições do Cristo ressuscitado), sinalizando que na época da escrita dessa carta (cerca de meados da década de 50) reuniam-se já as tradições que, trinta anos depois, começariam a ser sintetizadas nos relatos dos evangelhos. Mas o que nos interessa aqui é a observação final feita por Paulo:

Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortivo. (1 Coríntios 15:8)

A NVI, traduzindo to ektromati como “a um nascido fora do tempo”, capta bem a perplexidade que talvez habitasse a interioridade de Paulo; mas ela dissolve um pouco o caráter tenso da afirmação paulina e, principalmente, o escândalo que representou a adesão de Paulo à fé cristã. Provavelmente a expressão era usada contra Paulo por seus adversários, gente de dentro da própria igreja que via seu ingresso como indesejado, como fermento de tumultos (sobretudo por conta de sua pregação do evangelho da graça livre de Deus). Um aborto é uma deformação; mas Paulo se vale da imagem violenta para afirmar: “Até mesmo a mim, o aborto, o nascido fora do tempo, Cristo apareceu!”

Sejamos indiscretos: pratiquemos um mergulho introspectivo na mente de Paulo. Talvez essa expressão contenha uma dimensão mais pessoal; talvez ela indique o lamento daquele que estava longe, alheio, enquanto Jesus realizava seu ministério, rodeado por homens que agora lideravam a igreja (alguns dos quais rejeitavam severamente a Paulo). A darmos crédito à tradição, Paulo teria nascido em torno do ano 9 de nossa era; seria pouco mais ou menos uma década mais novo do que Jesus. Não poderia, certamente, ter estado entre os fariseus que o julgaram, na madrugada da Sexta-feira Santa; nem se deveria esperar isso, tendo em vista seu status de judeu da Diáspora. O que se sabe com relativo grau de certeza é de sua ação contrária à igreja lá pelos finais da década de 30 e de sua surpreendente conversão. Mas sempre se pode conjecturar que, uma vez liberto das escamas que o impediam de ver no carpinteiro nazareno o Messias, o kyrios (como Paulo gostava de se referir a Jesus, empregando um termo grego que significa “senhor” e que os tradutores gregos do Antigo Testamento usavam para verter o nome impronunciável de Deus, Yahweh), o fariseu tornado discípulo pode ter, inúmeras vezes, se lamentado por sua lerdeza. Por que não antes? Por que demorar tanto para chegar a essa percepção fundamental, a percepção do caráter único de Jesus Cristo? Por que não ter nascido na época certa?

A Paulo provavelmente pesavam a oposição de cristãos mais antigos e a resistência deles, não apenas à sua mensagem, mas à sua própria pessoa. Se essa oposição mais ainda o empurrou para um ministério fora dos parâmetros, radicalmente destruidor de paradigmas, ela também pode ter depositado dentro dele uma mágoa funda. Usar o mesmo vocábulo de detração – “aborto!” – que seus opositores empregavam contra ele foi uma jogada de mestre desse mestre da retórica que era Paulo (não acreditem quando ele diz que nada entendia de “sabedoria de palavras”; Paulo manejava a retórica como poucos, inclusive em sua mais acabada forma, aquela que parece prescindir de toda retórica); mas essa jogada, conquanto eficaz, não seria suficiente para calar a tristeza pelo que podia ter vivido e não viveu, pelo que podia ter conhecido diretamente do Cristo e não chegou nunca a conhecer.

Talvez Paulo fosse como muitos de nós, gente que, diante de sentimento semelhante, gosta de imaginar: “Esses foram os caminhos de Deus, necessários para mim”. Em alguma medida todos nós já fomos presa desse pensamento segundo o qual os tempos desperdiçados em nossas vidas estavam previstos nos desígnios do Pai e foram indispensáveis para nos construírem, para que pudéssemos nos tornar o que somos hoje. Sem dúvida o pensamento tem um fundo de verdade: sem cada uma das experiências que vivemos não seríamos, hoje, o que somos. Mas particularmente não acredito nessa intervenção contínua de Deus que o pensamento, em sua forma ampla, supõe; como se a rejeição, momentânea, à fé (no caso de Paulo) fosse necessária para que ele pudesse se enquadrar nos planos de um Deus que tudo determina e delimita. Como se nossas pequenas atitudes e decisões correspondessem a jogos premeditados nos tabuleiros de nossas vidas, tendentes a nos conduzirem a resultados pré-definidos. Essa perspectiva, bem como toda a doutrina clássica da “providência”, estriba-se mais na noção grega de Deus como uma Razão que tudo governa e perscruta do que na ideia hebraica de Deus como Aquele com quem entretemos relacionamentos vivos e pessoais. Desde sua fase mitológica os gregos estavam acostumados a pensar nos seres humanos como “joguetes” das forças divinas (ver, como exemplo, as tragédias gregas); para os hebreus tal pensamento seria absurdo. Deus, na concepção hebraica, não determina o que o ser humano vai viver. Deus dá liberdade ao ser humano para que se construa a partir de suas decisões; com isso, e apenas com isso, torna-se possível o relacionamento entre Deus e a grande família dos homens.

Creio que Deus nos confia o desenho de nossa própria vida. Não embeleze o tempo perdido com alusões providencialistas, do tipo “Deus permitiu isso para que...”. Tempo perdido é tempo perdido. Os anos que Paulo gastou zombando da fé cristã não lhe foram devolvidos. O que poderíamos ter feito na casa dos vinte anos e não fizemos desapareceu para sempre. Não há retorno.

Mas permanece o fato de que nossas decisões, mesmo equívocas, nos moldaram. Sou, hoje, aqui e agora, o resultado das ações que pratiquei e das decisões que tomei ao longo de minha vida. Na minha ótica de hoje, acertadíssimas algumas delas, completamente erradas outras; mas minha ótica de hoje não é a que eu tinha há dez anos (e o que hoje me parece acerto talvez eu chamasse, dez anos atrás, de engano). Estamos em constante movimento e, em consequência disso, nenhum balanço de nossa vida é final ou estático.

Olhando para meu passado desse lugar privilegiado que é o “hoje”, percebo que poderia ter tomado decisões melhores; mas, se eu as tivesse tomado então, quem eu seria hoje? Não seria o mesmo; talvez nem sequer estivesse aqui. Ao invés de lamentar o tempo perdido e de acalentar uma suave melancolia por ter aprendido tão tarde a compreender a mim mesmo, prefiro me alegrar pela relativa clareza com que, no presente, consigo me enxergar. Sabendo que, mesmo agora, tomo decisões que, no futuro, talvez não virei a considerar tão boas assim.

A vida é construção contínua. E o Pai, Autor da vida, é tão bondoso que nos deixa construí-la nós mesmos, com toda a alegria e toda a ansiedade que provêm de nos envolvermos num projeto semelhante. “Abortivos” ou não, nascidos fora do tempo ou não, importa que estamos vivos. E que somos livres.


Rui Luis Rodrigues
Professor da Faculdade de Teologia
Em CARISMA







Fonte:
http://www.genizahvirtual.com/2012/11/como-um-abortivo.html

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Voce já estabeleceu uma visão Teocêntrica da Vida?


VOCÊ JÁ ESTABELECEU UMA VISÃO TEOCÊNTRICA DA VIDA?

Por Josemar Bessa
“E assim irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci.” – Ester 4.16
 Em nossos dias tem sido pregado que devemos ir a Deus para conquistar e conquistar coisas. Não se fala nas perdas que devem ser enfrentadas ao viver para glória de Deus. Viver para a glória de Deus já deixou de ser há muito tempo o motivo pelo qual as pessoas são chamadas para irem a Deus. Foi dito a rainha Ester: ” Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” Ester 4:14
A pergunta se estende a todos nós. Por que Deus nos deu o trabalho que temos, a família que temos, a posição que ocupamos…? Ester podia dizer que era rainha porque era linda, porque mereceu, porque ( como é comum hoje ) Deus devia isso a ela, porque era a mais bela do reino…
Gostamos de dizer que na eternidade Deus nos escolheu, que fazemos parte do propósito eterno de Deus. Nada em nossa vida é um fim em si mesmo. Existimos para a glória de Deus. Não se acende uma vela para ela iluminar a si mesma. Nós temos profissão, família… Nós temos separado nossa vida de nossa vocação eterna – se é que isso é possível. Mas é dito a Ester: “você chegou a ser rainha para fazer o que Deus desejou colocando você nesta posição. Se você se calar agora, a salvação de Deus virá por outros meios”.
Você separa seus interesses do Reino de Deus? Ou já estabeleceu uma visão teocêntrica da vida? Tudo na vida deve ser arriscado no nosso chamado. Ester não podia dizer: eu sou rainha, algo precisa ser feito, mais não posso arriscar essa conquista… Não! É dito a ela – para esta hora Deus te colocou como rainha. “Pois se de todo te calares agora, socorro e livramento de outra parte virá para o povo de Deus” – Tudo deve ser arriscado no nosso chamado para proclamarmos e vivermos para a glória de Deus. Mas a palavra para Ester se completa: “…mais você e sua família perecerá”.
Deus não precisa de nós para salvar seus escolhidos e fazer toda a sua vontade. A questão é se estamos ou não entre aqueles que vivem realmente para a glória de Deus.
O que é dito a Ester e a nós é – arrisque-se e diga a verdade ao mundo! Precisamos de um dilúvio de zelo pela glória de Deus. Haverá perdas? Haverá perigos? Arrisque-se! Diga como Ester – “Se perecer, pereci”. Para esta hora nós fomos levantados. Hoje só se fala de evangelho em termos de ganhar, ganhar, reivindicar… Deus diz: arrisque perder tudo (no caso de Ester não só a posição, mas a própria vida ) – por minha glória e vontade. Responda como ela: “Se perecer, pereci”.
Vi no:http://www.pulpitocristao.com/2012/11/voce-ja-estabeleceu-uma-visao-teocentrica-da-vida/
Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

4 Teses sobre o que é "Ser Santo"


Quatro teses sobre o que é “ser santo”

Jonathan Menezes


“Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1.15-16).


Quatro... É o número de vezes em que a sentença “sejam santos, porque eu sou santo” aparece somente no livro de Levítico – sem contar com esta passagem da primeira carta de Pedro, é claro, que faz referência àquela. Qual é a possível mensagem implícita nesta sentença? A de que devemos ser “iguais a Deus”? A de que nos compararemos a Ele em sua Santidade? A de que devemos lutar para que a santidade seja possível? Três vezes não! Mas, num primeiro plano, aparece a mensagem de que Deus, o Senhor, que tirou seu povo da terra do Egito, é “Santo”, isto é, incomparável, está “acima de todo nome”, não há outro igual a Ele, não é e nem pode ser idêntico a outros deuses, nem tampouco às formas, fórmulas ou nomes que tentam “descrever” Deus. Ele é o que é...

A Santidade, nesse sentido, é o que torna impossível qualquer espécie de cogitação sobre Deus, qualquer teologia que possa ser feita, por ser “sobre Deus”, ou visando “nomear Deus”. E a graça é o que torna, em contrapartida, possível a teologia como resposta ao falar e ao agir desse Deus Santo, no nível de nosso entendimento sobre ou da nossa experiência com este Deus.


Mas, em que medida se pode ser santo “como Deus é...”? Diria que não na medida em que ambicionamos a santidade, pois ser santo não é propriamente ambição, mas vocação. Ninguém “ambiciona” a santidade neste sentido (bíblico) estrito, pois não há vantagem, status ou benefício direto algum em ser santo. Não me torno melhor e nem pior que ninguém. Não ganho nenhum “Prêmio Nobel de Santidade”. Sou apenas “diferente”, e diferente “apenas”. E assim sou na medida em que me deixo levar pelo jeito divino de me fazer diferente sem ser extraterreno ou extra-humano – o que demonstra que a santidade sobre a qual falo não tem nada a ver com a conotação religiosa do santo-beato.


Santos, portanto, são chamados. Pedro diz: “Santo” é “aquele que os chamou”. Paulo, quando escreve aos Romanos – e esta é uma linguagem que repetidamente aparecerá em suas cartas – assim endereça: “A todos os que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos” (Romanos 1.7). Santidade, então, não é essencialmente um alvo humano, mas alvo de Deus para a humanidade; os que são chamados “santos” na perspectiva bíblica não o são porque perseguiram este caminho ou porque fizeram “das tripas o coração” para se tornarem “santos” aos olhos de Deus e do mundo, mas porque foram “perseguidos” e atraídos por e para esta via, que é uma via de graça.



Ser santo, assim, é um fado, isto é, um destino, uma vocação. Um fado que pode se tornar fardo, às vezes, seja (dentro de um estado “normal” de coisas) quando reconheço a complexidade dessa carreira que me está proposta (fardo-desafio, que pode ter tonalidades positivas), ou, pior, é fardo quando penso que a santidade depende de mim e de meus esforços “apenas” para existir (dentro de um estado “anômalo” de coisas). Ao mesmo tempo, é uma vocação que pode e deve ser alegre, leve, cheia de vida, à medida que não se separa da graça de Deus, nem da beleza de viver e de ser humano, conformando-me com o exemplo do “filho do homem”.

Gostaria de propor, em suma, quatro teses (não inéditas) que endereçarão (parcialmente) a perspectiva que hoje tenho sobre santidade:



1. Ser santo, como Deus é santo, implica despretensiosidade ou em aceitar-se como se é. O que, no caso da santidade, significa assumir-se como um ser pecador e naturalmente incapaz de santidade. 

Nisto se configura o que Tillich chamou de “a coragem de ser”: “aceitar-se como sendo aceito, apesar de ser inaceitável”. Ele ainda acrescenta que “não é o bom, ou o sábio, ou o piedoso, quem está destinado à coragem de aceitar a aceitação, mas aqueles que são faltos de todas estas qualidades e estão certos de serem inaceitáveis” (Tillich, 1972, p. 128).



2. Ser santo, como Deus é santo, implica abraçar a condição (contingente) de “ser como uma parte”, continuando a pensar com Tillich (1972, p. 70), e de se colocar, assim, como um ser sempre a caminho de se tornar. 

Nisto também se configura a vocação: ela não é para aqueles que já-são, mas para os que, pela graça, podem vir-a-ser. Não seria este o convite do próprio Jesus: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores” (Marcos 2.17)?


3. Ser santo, como Deus é santo, implica esvaziar-se da ambição diabólica de “ser como (igual) a Deus”, e cobrir-se, em contrapartida, de humanidade, de “nova humanidade”. Parafraseando Zélia Duncan e Mosca na música “Carne e sangue”, me cobrir de humanidade me fascina e me aproxima do céu.

Caminhar com Deus é um privilégio e uma dádiva, e não a conquista dos “caçadores de Deus” e suas formas de religiosidade sem conteúdo e sem vida, e, como disse J. Urteaga, cheias de “falsas virtudes que ocultam uma vergonhosa covardia” (Urteaga, 1967, p. 75). Santidade que nos priva da vida e da benção de ser apenas humano não vem de Deus. Pois, segundo Elienai Cabral Jr. (2009, p. 17), ela “subestima a vida humana e impõe uma agenda de pretensa divinização da vida. Insinua uma existência sem tensões, medos, dúvidas e aflições. Sem pequenos prazeres. Sem alegrias banais. Sem dança, festa, riso, vinho e amor”.

4. Ser santo, como Deus é santo, implica, por fim, na inconformidade com qualquer outra medida que não seja a “medida da estatura da plenitude de Cristo”, sobre a qual falou Paulo (Efésios 4.13). Para isto, é preciso “estar em Cristo”, que é tudo o que possibilita o caminhar em santidade de vida. O estar em Cristo me torna uma nova criatura. O “velho”, fraturado, vai dando lugar ao “novo”, em construção, e à “novidade de vida”.


Em suma: tendo sido feito-santo, não deixo de ser humano, que, por si só, é incapaz de santidade ou contingente. A diferença é que, agora que fui alcançado pela graça, existe algo que me move rumo a um horizonte de vida abundante ao qual, por enquanto, experimento apenas de relance. A ideia de santidade como vocação me faz pensar, assim, que existe um já que se apresenta como convite e como possibilidade de um vir a ser diário na graça. O santo-humano tem também seus demônios. Aprendendo a conviver com eles, sem a eles se render totalmente, é o que consiste em aceitar diariamente ao convite. Santidade sem sanidade (expressão de Robinson Cavalcanti) gera gente doente, e não gente santa. Em outras palavras, o anseio pela santidade sem o Evangelho não vira santidade, vira patologia.



Referências Bibliográficas


CABRAL JUNIOR, Elienai. Salvos da perfeição: mais humanos e mais perto de Deus. Viçosa, MG: Ultimato, 2009. 
TILLICH, Paul. A coragem de ser. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972. 
URTEAGA, Jesus. O valor divino do humano. São Paulo: Quadrante, 1967.


Publicado em Novos Diálogos


Jonathan Menezes é professor de história e teologia na Faculdade Teológica Sul Americana e no ISBL – Centro Educacional Evangélico, em Londrina. É mestre em História Social pela Universidade Estadual de Londrina.


Fonte:
http://www.genizahvirtual.com/2012/11/quatro-teses-sobre-o-que-e-ser-santo.html

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Profunda Superficialidade de Nossos Dias!


A PROFUNDA SUPERFICIALIDADE DE NOSSOS DIAS

Por Walter McAlister
Uma das características que melhor definem a época da História em que vivemos é a superficialidade. Somos pensadores superficiais. Somos cristãos superficiais. Aliás, eu diria até que somos profundamente superficiais. Claro que ser “profundamente superficial” é o que chamamos de um oximoro – uma expressão que se contradiz e, ao fazê-lo, afirma uma contradição. Assim como “água seca”, ou uma “verdadeira mentira”, “profunda superficialidade” soa como um absurdo. Mas é isso mesmo o que somos. Pois somos superficiais até as mais profundas profundezas da nossa alma. Não importa quão profundamente cavemos na nossa alma contemporânea, nunca chegamos a algo que seja substancial. Tudo é superficial. Nossos sentimentos mais profundos são superficiais. Nossas paixões mais arrebatadoras são superficiais, efêmeras, passageiras. Somos pessoas cuja alma se assemelha a uma floresta inteiramente composta por árvores sem raízes. Por mais que você consiga adentrar os recônditos mais escondidos da floresta, não achará uma árvore que tenha firmeza. Pois, sem raízes, qualquer uma delas é facilmente arrancada pelo vento e substituída.
Essa constatação não significa que não tenhamos sentimentos fortes. Temos. Não quer dizer que nossas atitudes não sejam profundamente sentidas. São. Mas todas as profundezas do nosso ser, de nossos sentimentos e das nossas atitudes são, em última análise, superficiais.
Tomemos como exemplo a postura atual da maioria da sociedade brasileira contra a homofobia. “Todos” se dizem profundamente inconformados com os “tão intolerantes” cristãos. Afinal, “todos sabem” que qualquer opção de vida que um indivíduo faça é seu direito e é algo “absolutamente normal”. Esse é o discurso feito em público. Só que o bloco político que fez da sua campanha a defesa dos homoafetivos foi derrotado nas urnas de uma maneira tão absoluta e humilhante que ninguém quer falar a respeito do assunto. Na hora do “vamos ver”, da defesa política da opção dessas pessoas, ninguém compareceu. Multidões aparecem para fazer uma parada festiva. Mas, na hora de transformar esse discurso em ação… nada. E, quando não há um gay por perto, a grande maioria dos que os defendem não hesita em fazer piadas sobre os seus trejeitos.
Mas não sejamos duros com os que não compartilham da nossa fé. Afinal, vivemos numa casa cujo telhado também é de vidro. Se começarmos a jogar pedras, estilhaços vão voar para todos os lados.
Vejo pessoas demonstrarem uma enorme paixão ao defender o culto “gospel”, com todas as suas manifestações emotivas e bombásticas, e que afirmam ter um profundo “amor” para com Deus e seu Filho, Jesus Cristo, para não mencionar também o Espírito Santo. Derramam lágrimas. Fiéis se prostram e até se arrastam pelo chão, rugindo como leões. Muitos abanam os seus braços numa comoção em massa, enquanto alguém grita ao microfone algo sobre render honra, glória e louvor ao Deus Altíssimo, criador dos céus e da terra.
Pouco tempo depois, muitos (sim, muitos) estão tomando umas e outras no barzinho e contando piadas sujas. Não são poucos os jovens que até terminam no motel uma noitada após um “cultaço”. Sua paixão profunda no culto não passa de uma profunda superficialidade. Sim, porque não há ligação entre uma paixão e a outra. Arrebatados pelo culto, são, em seguida, igualmente arrebatados pelos seus instintos mais baixos, traindo tudo o que o culto deveria representar.
Leio a lista dos interesses que pessoas escrevem em seu perfil do Facebook e me espanto. Enquanto dizem “curtir” o reverendo Paul Washer, “curtem” programas de televisão que promovem sexo ilícito e toda sorte de perversão, justo aquilo que o reverendo Washer combate tão claramente: True Blood, Sexo sem compromisso, Friends, Vampire Diaries, Crepúsculo e uma infinidade de filmes e seriados que vomitam sua imundície sobre o mundo todo. Qualquer um que fizesse um estudo do perfil da maioria dos jovens que povoam a nação virtual teria que chegar à conclusão de que são insanos, hipócritas, e ímpios disfarçados de crentes. E é exatamente o que são. Iludem-se ao pensar que podem ser amigos do mundo e também de Deus.
Seus corações não estão alicerçados em Jesus. Sua paixão por Cristo é tão profundamente superficial como sua paixão pelas inúmeras cores de esmalte (que é a moda atual entre as mocinhas de Cristo) ou por sapatos – sim, sapatos. De cabeças ocas e corações esfacelados, vivem sendo arrebatados pela última novela (sim, porque isso é normal e achar que não é torna-se legalismo), moda, filme ou música. Põem Jesus Cristo ao lado de Lady Gaga nas suas páginas de “curtir”.
É insano. Uma geração sem moral, sem raízes e sem um norte.
Mas… será que são todos assim? Claro que não. Alguns estão começando a pensar. Alguns estão começando a se questionar. Nem tudo está perdido. Mas a maioria, lamento dizer, está.
Na paz,
+W
***
Walter McAlister é escritor, conferencista e Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida. Escreve em seu blog pessoal.
Fonte:http://www.pulpitocristao.com/2012/11/a-profunda-superficialidade-de-nossos-dias/
Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Fórmula Neopentecostal!


A fórmula neopentecostal

Johnny Bernardo

O aparente sucesso do Neopentecostalismo está sendo acompanhado por grupos religiosos que buscam uma melhor colocação no mercado da fé. Recursos audiovisuais, campanhas de cura e libertação, palavras de poder e marketing pessoal são mecanismos amplamente utilizados por líderes neopentecostais. Da experiência surgiu uma fórmula, um mecanismo, adaptável por qualquer organização religiosa.

Mesmo diante de um crescimento considerável nos últimos anos, a Renovação Católica Carismática (RCC) aos poucos parece ceder à fórmula neopentecostal. O surgimento de padres jovens e mediáticos, o uso de espaços não tradicionais – como a capela inaugurada pelo Pe. Marcelo Rossi, em Santo Amaro –, e a criação de uma liturgia participativa são evidências de que o movimento está se reconfigurando. 

Surgida de uma experiência “pentecostal”, na Universidade de Duquesne em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA, em 1967, a Renovação Católica Carismática chegou ao Brasil no ano seguinte com a proposta de “reavivamento” do catolicismo nacional e ser uma opção às cruzadas evangelísticas da Segunda Onda Pentecostal Brasileira. No entanto, com o surgimento de igrejas como a Universal do Reino de Deus, no final dos anos 70, a RCC passou a enfrentar uma nova modalidade de “pentecostalismo” centrada em campanhas de cura e libertação e apoiada no uso maciço de meios de comunicação, começando pela extinta TV Tupi. 

Apesar da ameaça, a RCC somente despertaria para a nova realidade no começo dos anos 90, quando cria a figura do padre pop star e passa a combater de forma mais dura o movimento neopentecostal. Ao mesmo tempo, investe em programas televisivos e autoriza a realização de missas de cura e libertação, como as conduzidas pelos padres Vanderlei Nunes (da Igreja Nossa Senhora das Graças, de Santo André, São Paulo) e Jader Pereira (do Santuário do Bom Jesus, na Mooca, também São Paulo). 

Do Neopentecostalismo também seria adotada a doutrina da Maldição Hereditária. De acordo com MARIANO (1999) e depois SIEPIERSKI (2001), a MH teria sido usada pela primeira vez no IX Cenáculo de Maria da RCC de São Sebastião – SP, em que uma pregadora, vinda da diocese de Lorena (mesma diocese da Canção Nova) discursou: "Vamos orar para expulsar o espírito da pobreza, o espírito de Satanás, para tirar a maldição que colocaram na sua vida. Vamos todos orar: eu renuncio a toda depressão, a toda opressão maligna, vamos orar em línguas, eu rejeito toda miséria, eu rejeito toda maldição hereditária, toda feitiçaria (...)" (ALVES, 2005) 

A MH também é mencionada, com certa frequência, em discursos do Pe. Marcelo Rossi e consta no livro do também carismático, Pe. Jonas Abib (ABIB, 2005: 20). Juntamente com a MH, também encontramos claras referências à Teologia da Prosperidade e da Saúde. Em um testemunho dado por uma fiel no IX Cenáculo de Maria, são perceptíveis às semelhanças com o Neopentecostalismo: "O capeta tem tirado a saúde dos servos do Senhor; o demônio tem prejudicado a situação financeira dos servos do Senhor, nós (aponta para o marido) não tínhamos dinheiro nem para pagar o ônibus do nosso filho. Eu tenho que dizer “eu quero esse carro” e confiar no Senhor" (ALVES, 2005). 

Adaptações 

Outras adaptações – ou semelhanças – são perceptíveis em pelo menos duas outras organizações religiosas: A Igreja Templária de Cristo na Terra e a Catedral Mundial dos Orixás. Na primeira, fundada pelo pernambucano Walter Pereira da Silva, em 2011, e que tem sua base na Rua Leais Paulistanos, 643, no Ipiranga, São Paulo, nota-se um sincretismo de crenças que envolvem elementos do catolicismo popular, sociedades secretas, religiões orientais e do neopentecostalismo. 

Nas reuniões da Igreja Templária, além da presença de símbolos de sociedades secretas e imagens de “santos” católicos, louvores de autoria evangélica e campanhas inspiradas no Neopentecostalismo imergem multidões em transes “espirituais”. Na campanha do Vale de Sal, adeptos enfileirados passam por cima de toneladas de sal enquanto recebem orações e passes do “apóstolo”, muitos dos quais acabam “exorcizados”. À semelhança das igrejas neopentecostais, a ITCT também mantém programas radiofônicos e televisivos onde conclama fieis a aderirem ao “Carnê da Gratidão”. 

Walter Sandro, que antes de iniciar sua empreitada de fé foi vendedor de seguros, radialista e palestrante motivacional, tem sido alvo de denúncias de estelionato por vítimas do chamado “Clube de Investimento”. Mesmo em meio a várias denúncias e processos judiciais, o líder religioso continua oferecendo assistência e promovendo campanhas na sede mundial da ITCT e em outras dez filiais da denominação. 

A Catedral Mundial dos Orixás Palácio de Ogum ou Centro Espírita Ylê Axé, com sede na Travessa Damião de Aguiar, nº 49, Maria das Graças, zona norte do Rio de Janeiro, é, certamente, a de maior interesse e curiosidade por misturar elementos do candomblé com características típicas do Neopentecostalismo, como palavras de poder e o uso de técnicas de Marketing – como propagandas emoutdoors, onde expressões como “Pare de sofrer Agora” demonstra inspiração no Neopentecostalismo. 

Recentemente operando a partir de uma filial na vila Formosa, São Paulo, a CMOPO vem ampliando sua presença na mídia. Na rádio Metropolitana AM e TV NGT, são veiculados depoimentos (escute um dos vários aqui) de “cura” e utilizadas frases típicas de pastores neopentecostais, como “através de sua fé”, “auxílio espiritual”, “romper todos os obstáculos”, “não se entregar”, “equipe de fé”, “corrente” etc. Ao mesmo tempo, insere os adeptos no submundo dos orixás africanos, com consultas de tarô e de búzios. 

Assim como o fundador da Igreja Templária, o organizador da Catedral Mundial dos Orixás, Donizete Souza Braga – mais conhecido como Geremias de Ogum - também teve sua passagem pela justiça. Acusado de falsidade ideológica, foi preso em flagrante em 13/07/2005. Segundo a Conjur, o investigado teria feito se passar por padre em São Paulo e pastor em Santa Catarina, além de aplicar golpes em agências bancárias do Rio de Janeiro. Um ano depois, segundo o Espaço Vital, deixou a cadeia após liberação de um habeas-corpus. 


Bibliografia 

  • ABIB, Pe. Jonas. Reinflama o Carisma; São Paulo: Loyola; Cachoeira Paulista: Editora Canção Nova; 2004; 14ª ed; 
  • ALVES, Sônia Cantão; Testemunho dado no IX Cenáculo de Maria da RCC de São Sebastião, SP em 09/10/2005; 
  • MARIANO, Ricardo. Neopentecostalismo; sociologia do novo pentecostalismo no Brasil; São Paulo: Loyola; 1999; 
  • SIEPIERSKI, Carlos Tadeu; “De bem com a vida”: O sagrado num mundo em transformação; Tese apresentada ao Departamento de Antropologia Social da FFLCH ; São Paulo; 2001.




Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da 
religiosidade brasileira e colaborador do Genizah


Fonte:http://www.genizahvirtual.com/2012/11/a-formula-neopentecostal.html


Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Reino e o Reinado!


O Reino e o Reinado


Ariovaldo Ramos


Vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Pois vosso é o reino o poder e a glória para sempre, amém!

A palavra reino aparece duas vezes na oração. Na segunda frase: "Pois vosso é o reino…" Reino tem a conotação de tudo o que existe, isto é, de tudo o que é sustentado pelo DEUS . E o DEUS a tudo sustenta, pois só Ele (a TRINDADE) existe, tudo o mais subsiste nele.

Na primeira frase: "Venha a nós o vosso reino…" Reino traz o conceito de Reinado. É o pedido para que o reinado da TRINDADE seja estabelecido na terra.

É um pedido! O que pressupõe o desejo voluntário de quem pede!

Por que, a um ser todo-poderoso, se deve pedir, na realidade que Ele mesmo sustenta, a feitura de sua vontade?

O DEUS, que, por definição, tudo pode, concedeu, temporariamente, a possibilidade da rebelião, e, em o permitindo, sustenta a existência dos rebelados.

O DEUS, de toda a criação, possui todo o poder, mas, não é possuído pelo poder, daí cede espaço para a existência de consciências arbitrárias.

O DEUS decidiu que reinaria sobre os que desejassem estar sob o seu reinado.

Nesse tempo, que chamamos de hoje, o DEUS está a recrutar os que querem sobre si o reinado da TRINDADE.

Oram, conforme essa oração, os que voltaram do estado de rebelião para o estado de adoração, que é a maneira adequada de relacionar-se com o DEUS do Universo.

Não há, entretanto, nessa fase da história, boas notícias para os que fizeram essa opção.

O novo testamento começa com o DEUS sendo expulso do templo, e termina com Jesus do lado de fora da igreja.

No início do relato da nova aliança, João, o Batista, que é sacerdote da família de Arão (Lc 1.5,13), e que, portanto, se tudo estivesse sob o reinado do DEUS, estaria como sumo-sacerdote, está no ermo, dizendo ser a voz daquele que fala do deserto (Jo 1.23): o DEUS que sofreu a defenestração com a assunção do sumo-sacerdócio pelos lacaios dos romanos (Lc 3.1,2 - Hendriksen - Ed Cultura Cristã - comentários a Lucas 3.1 e João 11.49-52; 18.13, 19-28)

No final do NT, na carta à Igreja em Laodicéia, Jesus, o Cristo, está, do lado de fora, a bater à porta, na expectativa de ser ouvido. Além disso, o próprio Cristo levantou a questão de se ele, em sua vinda, em glória, acharia fé na terra (Lc 18.8). Ele falava dos seus, uma vez que fé é dom de Deus (Ef 2.8).

Pedir o reinado do Pai é submeter-se ao doloroso trabalho de transformação, protagonizado pelo Espirito Santo, que se utiliza, inclusive, das lutas diárias: Jo 15.2; Rm 5.3-5; 8.29; 2Co 3.18; Col 1.11,12; 2Tm 3.10-13; Hb 10.36, 12.1-11; 1Pe 4.12-19.

Sujeitar-se ao reinado do Pai é passar pelo sofrimento resultante da rebelião, que se manifesta na história e nos enfrentamentos espirituais: Mt 5.11,12, 10.16-39; Mc 10.29, 30; Jo 15.20; 2Co 12.10; 2Tes 1.4, 5; 2Tm 3.12; Ef 6.10-13; 1Pe 4.12-19.

Submeter-se ao reinado do Pai é perseverar frente ao engano dos falsos profetas, discernindo os seus desvios, e diante do esfriamento do amor em quase todos, dos que se definiam como seguidores do Cordeiro (Mt 24.11-13).

O Israel, no Antigo Testamento, tinha uma missão na história para o bem da humanidade; o Israel, no Novo Testamento, a Igreja (Rm 11.17), tem uma missão na humanidade para o bem da história.

O objetivo do DEUS, ao formar Israel, era trazer a criança prometida no Jardim (Gn 3.15, 12.1-3; Gl 3.16). O Israel, no AT, a deveria trazer para a história. As recompensas, nessa fase do Israel, eram históricas, o DEUS lhe prometeu que se cooperasse com Ele, nessa tarefa, comeria do melhor da terra. O Israel, no AT, tinha de chegar à terra prometida e lá ficar, porque a criança tinha lugar certo para nascer (Miq 5.2).

O papel do Israel, no NT, é anunciar a criança para todas as famílias da Terra, assim, ao contrário do que perseguia, no AT, uma terra em que mana o leite e o mel, nessa fase, Israel tem que, o tempo todo, sair de qualquer terra para ir à toda a Terra.

A amplitude e recompensa do Israel, no NT, aqui, é uma comunidade solidária e planetária (Mc 10.29,30; 1Pe 5.9) e uma história de glória na eternidade (Mt 5.12). O Israel, no NT, não pode prender-se à história, como a vivemos, para que a história da humanidade se torne bem-aventurada na dimensão da eternidade.

O Israel, no NT, a Igreja, como comunidade sob o reinado do DEUS, vive nesta história, nela sinaliza o reinado do DEUS, que já está presente em si, e influencia a sociedade para que, na medida possível, experimente os padrões do reinado, implantando a justiça onde o conseguir, e o faz para que mais da humanidade sobreviva, pelo debelamento da pobreza e de toda a sorte de opressão do homem pelo homem, mas, jamais perde o foco na eternidade, porque hoje é tempo de arrependimento, pois, toda a rebelião será debelada, e o reinado do DEUS será estabelecido, e só os arrependidos nele viverão.

Ora "venha o vosso reino", quem se arrependeu de estar em estado de rebelião; quem entende que a sociedade, também, deve se arrepender pelo estado de rebelião, que se manifesta no pecado estrutural; quem crê que Jesus, é Deus e Cristo (Mt 16.16); quem crê que virá o reinado eterno do DEUS (Mc 1.14,15); quem reconheceu ser um privilégio estar em comunidade sob o reinado; quem reconhece que só há comunidade onde há justiça; quem sabe que só pela eficácia do sacrifício do Deus Filho, manifesto na cruz (1Pe 1.18-20) e na sua ressurreição, é possível participar no reinado; quem entende que a dor da Cruz é pequena frente à vida abundante da Ressurreição, que, boa notícia, já é possível desfrutar desde agora, como indivíduo e sociedade!





Fonte:
http://www.genizahvirtual.com/2012/11/o-reino-e-o-reinado.html

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Carta a Evangélico que faz Sexo com a Namorada!


Carta a Evangélico que Faz Sexo com a Namorada



[Os nomes foram trocados para proteger as pessoas. Embora algumas circunstâncias mencionadas na carta sejam totalmente fictícias, o caso é mais real do que se pensa...]

Meu caro Ricardo,

Ontem estive pregando em sua igreja e tive a oportunidade de rever João, nosso amigo comum. Não lhe encontrei. João me disse que você e a Raquel, sua namorada, tinham saído com a turma da mocidade para um acampamento no fim de semana e que só regressariam nessa segunda bem cedo.

Saí com o João para comer pizza após o culto e falamos sobre você. João abriu o coração. Ele está muito preocupado com você, desde que você disse a ele que tem ido com Raquel para motéis da cidade e às vezes até mesmo depois do culto de jovens no sábado à noite. Ele falou que já teve várias conversas com você mas que você tem argumentado defendendo o sexo antes do casamento como se fosse normal e que pretende casar com Raquel quando terminarem a faculdade.

Ele pediu minha ajuda, para que eu falasse com você, e me autorizou a mencionar nossa conversa na pizzaria. Relutei, pois acho que é o pastor de sua igreja que deve tratar desse assunto. Você e a Raquel, afinal, são membros comungantes dessa igreja e estão debaixo da orientação espiritual dela. Mas, João me disse que o pastor faz de conta que não sabe que essas coisas estão acontecendo na mocidade da igreja. Como sou amigo da sua família fazem muitos anos, desde que vocês freqüentaram minha igreja em São Paulo, resolvi, então, escrever para você sobre esse assunto, tendo como base os argumentos que você usou diante de João para justificar sua ida a motéis com a Raquel.

Se entendi direito, você argumenta que não há nada na Bíblia que proiba sexo antes do casamento. É verdade que não há uma passagem bíblica que diga "não farás sexo antes do casamento;" mas existem dezenas de outras que expressam essa verdade com outras palavras e de outras maneiras. Podemos começar com aquelas que pressupõem o casamento como sendo o procedimento padrão, legal e estabelecido por Deus para pessoas que desejam viver juntas (veja Mateus 9:15; 24:38; Lucas 12:36; 14:8; João 2:1-2; 1Coríntios 7:9,28,39), aquelas que abençoam o casamento (Hebreus 13:4) e aquelas que se referem ao divórcio - que é o término oficial do casamento - como algo que Deus aborrece (veja Malaquias 3:16; Mateus 5:31-32).

Podemos incluir ainda aquelas passagens contra os que proíbem o casamento (1Timóteo 4:3) e as outras que condenam o adultério, a fornicação e a prostituição (veja Mateus 5:28,32; 15:19; João 8:3; 1Coríntios 7:2; 6:9; Gálatas 5:19; Efésios 5:3-5; Colossenses 3:5; 1Tessalonicenses 4:3-5; 1Timóteo 1:10; Hebreus 13:4; Apocalipse 21:8; 22:15). Qual é o referencial que nos possibilita caracterizar esses comportamentos como desvios, impureza e pecado? O casamento, naturalmente. Adultério, prostituição e fornicação, embora tendo nuances diferentes, têm em comum o fato de que são relações sexuais praticadas fora do casamento. Se o casamento, que implica num compromisso formal e legal entre um homem e uma mulher, não fosse a situação normal onde o sexo pode ser desfrutado de maneira legítima, como se poderia caracterizar como desvio o adultério, a fornicação ou a prostituição? A Bíblia considera essas coisas como pecado e coloca os que praticam a impureza sexual e a imoralidade debaixo da condenação de Deus - a menos que se arrependam, é claro, e mudem de vida.

Você argumenta também que o casamento é uma conveniência humana e que muda de cultura para cultura. Bom, é certo que o casamento tem um caráter social, cultural e pessoal. Todavia, do ponto de vista bíblico, não se pode esquecer que foi Deus quem criou o homem e a mulher, que os juntou no jardim, e disse que seriam uma só carne, dando-lhes a responsabilidade de constituir família e dominar o mundo. O casamento é uma instituição divina a ser realizada pelas sociedades humanas. Embora as culturas sejam distintas, e os rituais e procedimentos dos casamentos sejam distintos, do ponto de vista bíblico o casamento implica em reconhecimento legal daquela união por quem de direito, trazendo implicações para a criação e tutela dos filhos, sustento da casa e também responsabilidades e conseqüências em caso de separação e repúdio. Quando duas pessoas resolvem ir morar juntas como se fossem casadas, essa decisão não faz delas pessoas casadas diante de Deus - mas (desculpe a franqueza), pessoas que estão vivendo em imoralidade sexual.

É verdade que a legislação de muitos países tem cada vez mais reconhecido as chamadas uniões estáveis. É uma triste constatação que o casamento está cada vez mais sendo desvalorizado na sociedade moderna ocidental. Todavia, esses movimentos no mundo e na cultura não são a bússola pela qual a Igreja determina seu norte - e sim a Palavra de Deus. Em muitas culturas a legislação tem sancionado coisas que estão em contradição com os valores bíblicos, como aborto, eutanásia, uniões homossexuais, uso de drogas, etc. A Igreja deve ter uma postura crítica da cultura, tendo como referencial a Palavra de Deus.

O João me disse ainda que você considera que o mais importante é o amor e a fidelidade, e que argumentou que tem muita gente casada mas infeliz e infiel para com o cônjuge. Ricardo, é um jogo perigoso tentar justificar um erro com outro. Gente casada que é infiel não serve de desculpas para quem quer viver com outra pessoa sem se casar com ela. Além do mais, como pode existir o conceito de fidelidade numa união que não tem caráter oficial nem legal, e que não teve juramentos solenes feitos diante de Deus e das autoridades constituídas? Mesmo que você e sua namorada façam uma "cerimônia" particular onde só vocês dois estão presentes e onde se casem a si mesmos diante de Deus - qual a validade disso? As promessas de fidelidade trocadas por pessoas não casadas têm tanto valor quanto um contrato de gaveta. Lembre inclusive que não é a Igreja que casa, e sim o Estado. Naqueles casamentos religiosos com efeito civil, o pastor ou padre está agindo com procuração do juiz.

Não posso deixar de mencionar aqui que na Bíblia o casamento é constantemente referido como uma aliança (veja Ezequiel 16:59-63). Deus é testemunha dessa aliança feita no casamento, a qual também é chamada de "aliança de nossos pais", uma referência ao caráter público da mesma (não deixe de ler Malaquias 2:10-16).

Não fiquei nem um pouco surpreso com seu outro argumento para fazer sexo com sua namorada, que foi "é importante conhecer bem a pessoa antes do casamento". Já ouvi esse argumento dezenas de vezes. E sempre o considerei uma burrice - mais uma vez, desculpe a franqueza. Em que sentido ter relações sexuais com sua namorada vai lhe dar um conhecimento dela que servirá para determinar se o casamento vai dar certo ou não? Embora o sexo seja uma parte muito importante do casamento, o que faz um casamento funcionar são os relacionamentos pessoais, a tolerância, a compreensão, a renúncia, o amor, a entrega, o compartilhar... você pode descobrir antes do casamento que sua namorada é muito boa de cama, mas não é o desempenho sexual de vocês que vai manter ou salvar seu casamento. Esse argumento parte de um equívoco fundamental com relação à natureza do casamento e no fim nada mais é que uma desculpa tola para comerem a sobremesa antes do almoço.

Agora, o pior argumento que ouvi do João foi que você disse "a graça de Deus tolera esse comportamento." Acho esse o pior argumento porque ele revela uma coisa séria em seu pensamento, que é tomar a graça de Deus como desculpa para um comportamento imoral. Esse sempre foi o argumento dos libertinos ao longo da história da igreja. O escritor bíblico Judas, irmão de Tiago, enfrentou os libertinos de sua época chamando-os de "homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Judas 4). Esse é o caminho de Balaão "o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição" (Apocalipse 2:14). É a doutrina da prostituta-profetisa Jezabel, que seduzia os cristão "a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos" (Apocalipse 2:20) e a conhecer "as coisas profundas de Satanás" (Apocalipse 2:24).

Como seu amigo e pastor, permita-me exortá-lo a cair fora dessa maneira libertina de pensar, Ricardo, antes que sua consciência seja cauterizada pelo engano do pecado (Hebreus 3:13). Ainda há tempo para arrependimento e mudança de atitude. A abstinência sexual é o caminho de Deus para os solteiros, e esse estilo de vida é perfeitamente possível pelo poder do Espírito, ainda que aos olhos de outros seja a coisa mais careta e retrógrada que exista. Se você realmente pensa em casar com a Raquel e constituírem família, o melhor caminho é pararem agora de ter relações e aguardarem o dia do casamento. Vocês devem confessar a Deus o seu pecado e um ao outro, e seguir o caminho da abstinência, com a graça de Deus.

Estou à sua disposição para conversarmos pessoalmente. Traga a Raquel também. Estou orando por vocês.

Um grande abraço,Pr. Augustus

Fonte:http://tempora-mores.blogspot.com.br/2012/11/carta-evangelico-que-faz-sexo-com.html

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

"Confissões & Confusões" em um gabinete pastoral!


“Confissões & Confusões” em um gabinete pastoral



  
Carlos Moreira



Talvez daqui há alguns anos eu escreva um livro só com as “pérolas” que ouço semanalmente no gabinete pastoral. Já pensei até no título: “Confissões & Confusões”.

A bem da verdade, uma das atividades mais desgastantes da vida de um ministro do Evangelho é o aconselhamento. Digo isto porque é impossível ouvir os dramas e dores das pessoas sem, de alguma forma, não se envolver com eles.

Mas a “escuta terapêutica” vem desaparecendo, gradativamente, das funções dos ministros ordenados e isto, para mim, tem um único motivo: escutar pessoas requer um investimento grande de tempo e, “desgraçadamente”, não gera dinheiro. Por isso, muitos pastores têm optado em fazer um curso superior de psicologia, pois aí podem cobrar pelo atendimento profissional.

Pois bem, esta semana eu me vi diante de uma situação muito freqüente quando ouço pessoas: a suposta “obrigação” de ter de dizer ao indivíduo se ele deve ou não fazer algo. Concretamente, a questão me foi posta da seguinte forma: “pastor, depois de ter ouvido tudo o que eu disse, me responda sinceramente: isto é de Deus ou do diabo?”. “Bem”, respondi, “nem de um nem do outro, muito pelo contrário!”.

E prossegui... “Meu amigo, eu não sou feiticeiro, nem adivinho, não possuo bola de cristal, não jogo búzios, nem leio cartas. Portanto, não estou aqui para lhe dizer como será o amanhã nem muito menos para lhe dar uma “profetada”. Posso sim lhe ajudar a refletir sobre alguns “cenários” possíveis, e isso a partir de suas escolhas. Mas saiba: a decisão final será sempre sua e somente sua”.    

E continuei... “Outra coisa que preciso lhe esclarecer é que nem tudo na vida se resume a ser de Deus ou do diabo. Na verdade, a maioria das coisas são “do homem”, ou seja, ganham materialidade a partir da projeção das “sombras” que existem em nós, pois, segundo Tiago: “cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar... pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para gastardes em vossos deleites””.

De forma objetiva, o que quero aqui esclarecer, é que a tradição cristã, infelizmente, está impregnada deste tipo de pensamento que nada mais é do que o dualismo grego. Foi a partir da influência desta filosofia que a existência acabou sendo reduzida a algo binário: zero ou um. Em outras palavras, tudo passou a ser ou de Deus ou do diabo.

O Dualismo grego é uma espécie de dialética hegeliana sem a síntese, ou seja, ele só tem tese e antítese. Separa o físico do metafísico, o sensível do espiritual, o bem do mal, a unidade da pluralidade.

Muitas destas idéias estão centradas em Platão, pois, para o filósofo, o mundo estaria dividido em duas esferas: a superior e a inferior. O nível mais elevado consistia das idéias eternas. O nível mais baixo era formado pela “matéria”. Esta, por sua vez, era temporal, física e imperfeita. 

É por este motivo, por exemplo, que Platão localiza o trabalho no reino inferior. Para ele, existia um reino espiritual separado e distinto do reino físico. Por isso, quanto mais espiritual a pessoa fosse, menos ligado à matéria estaria. No dualismo grego, o ambiente profissional era “carnal”, pois tratava das “coisas terrenas”, tais como o dinheiro.

Agora uma pergunta: você já viu este tipo de “pensamento” presente na igreja? Mais é claro que sim! O que você talvez não saiba é sua origem. Então vamos “mergulhar” na história...  

A partir do século IV, a cosmovisão cristã começou a sofrer forte influencia do neoplatonismo, desenvolvido por Plotino. Tratava-se de uma doutrina que preconizava, dentre outras coisas, o abandono do mundo material para que o espírito pudesse unir-se a uma “entidade superior”.

Pois bem, a “porta de entrada” do neoplatonismo no “pensamento cristão” se deu através de um de seus mais ilustres representantes: Santo Agostinho. O bispo de Hipona foi, talvez, o principal responsável pela adaptação das idéias de Platão de tal forma a que elas pudessem servir como argumentação filosófica para a apologética da fé cristã.

Um dos desdobramentos desta tradição, durante a idade média, impunha aos clérigos a necessidade de atestar sua espiritualidade através de votos de pobreza, de castidade e de obediência. Era a negação dos “elementos” do “reino inferior” com vistas a se alcançar uma “espiritualidade elevada”, ou seja, era a ataraxia estóica grega simbiotizada com a fé judaico-cristã.  

Agora quero lhe fazer uma proposta: olhe para a vida com estas “novas lentes” e, talvez, você comece a perceber que o dualismo não tem nada a ver com o Evangelho. Essa separação de mundo espiritual do mundo material é pagã, e não cristã. É dela que surgem conceitos tais como: "coisas de Deus" e "coisas do diabo"; arte sacra e arte profana, música gospel e música do mundo, coisas espirituais – orar, jejuar, pregar – e coisas "carnais" – trabalhar, se divertir, se exercitar.  

Fico feliz em saber que a proposta de Jesus é de ressignificação de minha consciência de tal forma a que eu encarne os valores e verdades do Reino. Deus é soberano sobre tudo, tanto o que é natural quanto o que é espiritual, pois, para Ele, as duas dimensões são uma coisa só. Por isso, o que sei é que devo ser santo, como santo é o Senhor, tanto na faculdade quanto na igreja, tanto no trabalho quanto na reunião de oração, tanto no campo de futebol quanto na escola dominical!

E saiba: nem tudo é “coisa do diabo”, como também nem tudo é “coisa de Deus”. Há, pois, “coisas que são do homem”, ou seja, escolhas e decisões que são tomadas no chão da vida e que trazem, por si mesmas, as suas conseqüências, seja para o bem, seja para o mal.

Na parábola do “Bom Samaritano” o caminho era um só, e todos iam por ele: tanto os salteadores quando o transeunte agredido, o levita, o sacerdote e o samaritano. A única diferença era a forma como cada um deles caminhava. Por isso, nunca se esqueça: o Caminho está dentro do caminho...



Carlos Moreira é editor assistente do  Genizah


Fonte:
http://www.genizahvirtual.com/2012/11/confissoes-confusoes-em-um-gabinete.html

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Conceito Reformado do Salário!


O conceito reformado do salário



Quais as considerações teológicas particulares do grande reformador João Calvino a respeito do salário? Qual a ética que define o salário humano? Veja abaixo uma citação retirada da obra de André Biéler chamada “A força oculta dos protestantes” que relata o conceito reformado sobre o assunto.

___________________

O salário humano retira seu significado de uma analogia com a recompensa que Deus concede ao homem por suas obras. De fato, ela depende unicamente de seu amor. Tudo o que recebe um ser humano é devido à graça de Deus. É ele que provê gratuitamente a sustentação da vida, por pura misericórdia. "Falando com propriedade", escreve Calvino, "Deus nada deve a ninguém". "Qualquer obrigação de que nos desincumbamos, Deus não está absolutamente obrigado a pagar-nos salário algum".

Na sua bondade, porém, Deus não abandona suas criaturas sem lhes dar o que lhes é necessário para viver. Remunera suas obras, não por obrigação, mas por amor. "Por sua bondade gratuita, oferece-nos salário", escreve ainda o reformador, "aluga nosso trabalho, o qual lhe é devido mesmo sem a remuneração".

O salário humano concedido a todo trabalhador é, portanto, a expressão tangível do salário gratuito e imerecido com que Deus privilegia a obra de cada indivíduo. Assim, por mais profano que seja, o salário se reporta à obra de Deus. Expressa de forma visível a intervenção de Deus em favor da frágil existência humana. Além disso, porque esse salário é o sinal da graça de Deus, não pode ser considerado como favor, que o dono do trabalho possa dispor como bem lhe aprouver. Dando ao trabalhador a remuneração de seu trabalho, o dono nada mais faz que transferir ao próximo aquilo que este tem direito da parte de Deus.

Por causa desse significado espiritual e ético conferido ao salário, o produto do trabalho não pertence, portanto, mais ao patrão que ao operário, ambos sócios na atividade comum. Em conjunto, recebem o produto como a recompensa providencial de seu esforço. Patrões e empregados são, em conjunto e igualmente, devedores de Deus segundo os dons que receberam e puseram em atividade, sem mérito maior para uns ou outros. Devem, portanto, repartir esses frutos de comum acordo, livremente, mas levando em conta a contribuição inicial e a responsabilidade de cada um.

Disso decorre que não se trata simplesmente de regular-se pela lei da oferta e da procura, sem qualquer outra consideração ética. E mesmo que tal ética jamais haja sido aplicada à letra, é sua orientação espiritual que importa observar. A negociação, aqui como em qualquer lugar, deve ocorrer. A negociação é um princípio social superior, que deriva diretamente do fato de que nenhum ator econômico é, sozinho, dono do que produz em conjunto com os outros. O produto permanece sinal concreto da graça de Deus, um dom a partilhar.

Fonte: A força oculta dos protestantes, Editora Cultura Cristã, págs. 128 e 129.

Vi no:http://bereianos.blogspot.com.br/2012/11/o-conceito-reformado-do-salario.html#.UKufg-TWJp4

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

Seguidores